terça-feira, 30 de abril de 2024

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA DO MUCURI (parte 1)

 A p r e s e n t a ç ã o


   


Quando meu amigo Ademir me fez o convite para escrever alguns parágrafos em seu blog, não pensei duas vezes. Primeiro, pela grande amizade construída ao longo de décadas; depois, por escrever sobre nossa história. Existe um grande vazio de informações sobre nosso passado, de modo que estaremos publicando quinzenalmente algumas notas sobre as coisas e as gentes dos sertões do Mucuri.   


A primeira estrada de rodagem do Brasil 

 
Mapa das colônias do Mucuri (arquivo Rio de Janeiro, 1866)



Até as primeiras décadas do século XIX, o nordeste de Minas Gerais era ocupado por indígenas. Com o aquecimento agrícola na província mineira nos anos de 1800, essas matas se tornaram espaço de grande interesse de grupos do Vale do Jequitinhonha, norte de Minas Gerais e sul da Bahia.

 

Com pretensão de obter lucros no transporte entre o Alto Jequitinhonha e o Rio de Janeiro, em 1847 foi criada a Companhia de Navegação e Comércio do Mucuri, por Teófilo Benedito Ottoni.  

 

Baseado nos estudos de Victor Renault, feitos em 1836, Ottoni acreditava que o rio Mucuri era navegável, o que facilitaria o transporte de mercadorias. Porém, essa  navegabilidade não se confirmou, apresentando-se como alternativa a construção da estrada, feita por braços de brasileiros livres, escravos nacionais e africanos, chineses e europeus. Concluída em 1857 com 180 quilômetros, tornou-se a principal via de locomoção da região.  

 

A estrada iniciava próximo à cachoeira de Santa Clara (município de Nanuque), passava na Colônia Militar de Urucu (localizada atualmente no município de Carlos Chagas) chegando até o então povoado de Nossa Senhora de Filadélfia, atualmente a cidade de Teófilo Otoni.

 

O projeto era estendê-la até o Alto dos Bois, mas a Cia. do Mucuri não conseguiu recursos para tal empreitada.  Ao longo da estrada, foram criados povoados, pontos de tropeiros, grandes e pequenas propriedades. Foram  surgindo também as mais ricas e variadas formas de representações culturais.

 

Porém, com o aparecimento da estrada de Ferro Bahia e Minas, no final do século XIX, a Santa Clara foi minguando. Ao longo dos anos, diversos trechos desapareceram, a estrada deixou de ser referência, sua história se perdeu no tempo.

 

Recentemente uma pesquisadora me perguntou sobre a localização de Paredes, ponto de apoio comercial no século XIX, situada à beira do rio Mucuri. Logo pensei: “Meu amigo Jader Moreira Rafael, falecido ano passado, saberia responder”. 


O Mucuri é bastante rico culturalmente, mas se não trabalharmos essa realidade de forma sistemática, corre o risco de ver cair no esquecimento uma página tão significativa de nossa história. 



Márcio Achtschin Santos, PhD em História pela UFMG e professor da UFVJM. 




gerson leal